Avanço tecnológico em detrimento ao lixo espacial: vale a pena?

A comercialização do céu tem se tornado cada vez mais frequente por parte de alguns bilionários, como Elon Musk e Jeff Bezos. Com isso, uma série de satélites serão lançados aos céus, sendo pelo menos 12 mil pelo projeto Starlink, da empresa SpaceX de Elon Musk, e pelo menos 3 mil de Jeff Bezos.

Popular a órbita baixa com satélites é bastante problemático para a astronomia: atualmente, existem aproximadamente 540 satélites do projeto Starlink (cerca de apenas 4,5% do projeto inicial), o que já resulta em problemas para os astrofotógrafos. Ainda que, hoje em dia, existam diversos tipos de satélites em órbita baixa, como os utilizados para GPS, esses atuam com poucas unidades, por volta de cem por constelação de satélites. Além disso, a União Astronômica Internacional reforça que quando os projetos estiverem concluídos, o brilho das constelações de satélites será tão intenso que poderá saturar os detectores de grandes telescópios. Ademais, o problema de visualização do céu não é o único que existe: os satélites enviados emitem e recebem informação por ondas de rádio, tornando mais difícil “ouvir o céu” por meio dos radiotelescópios. Isso ocorre porque os radiotelescópios são projetados para receberem baixas frequências naturais. Essa interferência de satélites frustra a identificação de alguns sinais cósmicos, tais como, aqueles vindos de galáxias.

Mesmo que existam problemas claros sobre o preenchimento dos céus, o projeto de Elon Musk almeja um número de satélites próximo a 42 mil, intensificando todas as problemáticas já tratadas. Temos, hoje em dia, cerca de 2 mil satélites orbitando nosso planeta, quantidade 12 vezes menor que o ponto final do projeto Starlink. Caso o projeto seja concluído, as hipóteses de colisão são enormes, tornando algumas áreas de nossa atmosfera inutilizáveis, como é apresentado no filme “Gravity”, de Afonso Cuarón. Esse filme mostra a “Síndrome de Kessler”, teoria desenvolvida na década de 1970 pelo consultor da NASA Donald J. Kessler, em que supõe que o volume de detritos espaciais na órbita baixa da Terra seria tão alto que objetos como satélites começariam a se chocar com o lixo espacial. Isso produziria um “efeito dominó” — gerando ainda mais lixo. A SpaceX (empresa de Elon Musk) disse que está estudando formas para isso não ocorrer: seus satélites são equipados por um sistema de evasão para evitar colisões com outros satélites. Entretanto, segundo a Agência Espacial Européia (ESA), esse sistema falhou em 2019, quando um de seus satélites quase colidiu com outro da SpaceX: no evento, o satélite da SpaceX não realizou a manobra de evasão, forçando o satélite europeu a realizá-la pela primeira vez.

Você deve estar se questionando: como ninguém faz nada contra ou pune essas empresas? A resposta é bem simples: como ainda não existem leis que regulamentam tais ações, é difícil para que órgãos governamentais e instituições de astronomia proíbam esses atos, fazendo com que as empresas coloquem ainda mais satélites ao redor do globo, deixando rastros luminosos que formam a “A Prisão da Tecnologia”, foto vencedora do prêmio “Insight Investment Astronomy Photographer of the Year” de 2020, tirada pelo astrofotógrafo Rafael Schmall.

Foto “A Prisão da Tecnologia”, vencedora do prêmio de Fotografia Astronômica de 2020; a estrela binária Albireo, na constelação de Cisne, atrás das “grades” de diversos rastros dos satélites da Starlink (Crédito: Rafael Schmall).

Portanto, enquanto não existir algum regulamento que impeça as empresas, ainda veremos esses satélites fazendo coreografias no céu. Não se assuste! Não são Óvnis que vieram colonizar nosso planeta, são “apenas” parte do projeto de comercialização dos céus.

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